FERNANDO CUNHA
na crista da onda
O que tem em comum os bem sucedidos projectos Delfins, Resistência e Ar de Rock, que face ao currículo dos seus membros integrantes podemos considerar também, a exemplo do sucede na cena internacional, como super grupos nacionais?
A presença de um nome verdadeiramente incontornável da área pop/rock portuguesa também justamente reconhecido como um conceituado produtor musical, letrista, multi-instrumentista, arranjador, vocalista, director musical e acima de tudo um grande e exemplar guitarrista que dá pelo nome de…Fernando Cunha.
Atingido, como todos nós, pela maldita pandemia covid 19 que assolou o mundo inteiro, Fernando Cunha aproveitou esse interregno para compor e dedicar-se assim à feitura de um novo projecto a solo que acabou de editar recentemente, lançamento esse que foi antecedido por alguns concertos de apresentação do projecto, que acabaram por redundar num êxito absoluto.
O cantautor deu ao seu novo “bébé” discográfico o título de “A linha do tempo” e o novo álbum teve com o base de gravação o já habitual estúdio “1 só céu” em Cascais; a primeira descoberta do novel trabalho teve por título “A mascara”, afinal de contas um simples adereço pouco menos que inimaginável aqui há anos atrás, a que fomos pouco a pouco forçados a render-nos e a ter de usar durante meses a fio, em função das obrigatoriedades sanitárias que a mesma pandemia coercivamente nos impôs e que agora, felizmente, parece estar em vias de ser dispensada, apesar de essa suspensão estar a gerar grande controvérsia, por não haver ainda certezas sobre se estaremos a fazê-lo antes do tempo ou não; sobre a mesma composição, que acabou por ser uma espécie de cartão de visita do novo disco, se pronunciou há tempos atrás o seu autor: “…”A máscara” é uma canção que fala sobre o nosso verdadeiro ser interior, a nossa essência de seres humanos, que nos une nas maiores adversidades e nos dá força para superarmos juntos a perda da liberdade e de todas as outras coisas que dávamos como garantidas e que de um momento para o outro ficamos privados”.
Canção inspirada e inspiradora é afinal de contas uma simples parcela de doze avos de uma totalidade de doze composições instrumentais que sozinho ou em parceria, Fernando Cunha nos propõe no novo projecto e que posteriormente com certo saber e grande imaginação soube literariamente ilustrar com as palavras de gente tão diversa, quanto actualmente reconhecidamente “missionária “das palavras; assim, vamos poder “encontrar-nos” com as palavras de Joana Alegre ( que grande revelação é a filha do grande mestre das palavras, o poeta Manuel Alegre, autora que aqui assina um total de cinco belíssimas letras/poemas em solitário!) e ainda Maria Leon
( companheira do cantautor a quem o presente disco é dedicado ), Miguel Angelo e o próprio Fernando Cunha.
Reconhecidamente de novo na “crista da onda”, grande ser humano e também homem de consensos e partilha, o cantautor português rodeou-se também de outros amigos e valores musicais para mais valorizar o conteúdo do disco e dar maior vasão à sua constante criatividade e ideias; assim vamos poder encontrar na parte vocal as participações especiais da mesma Maria Leon( já agora, para quando um novo trabalho a solo?), Diogo Campos, João Campos e Paulo Costa, (o ex-Ritual Tejo e Ar de Rock) e nas colaborações como instrumentistas as presenças de gente como Flak, João Alves, João Pedro Pimenta, Tó Trips e o meu amigo e grande “monstro” das cordas -Pedro Joia que, quer no disco, quer no concerto a que assisti no teatro Maria Matos, a 13 de Abril passado, deu um verdadeiro festival de criatividade, arte e virtuosismo!
Recheado de belas e sofisticadas propostas musicais, que se constituem também como um grande naipe de grandes composições, orelhudas, inspiradas e acima de tudo bem cantadas e melhor tocadas, o novo trabalho de Fernando Cunha, que cada vez mais se afirma como uma personalidade musical de grandes recursos, reúne todos os necessários condimentos para se assumir como um dos melhores, ou mesmo o melhor disco do panorama pop/rock português de 2022!
Tem a palavra, na necessária e urgente divulgação do seu conteúdo, as rádios e canais televisivos deste Portugal solidário e livre, órgãos quase sempre desatentos ao que é português e não traz por isso mesmo apensa a chancela da sua predilecção –“made in England”; tenham lá de uma vez por todas coragem senhores que poem e dispõem nas programações radiofónicas e nos jornais e concedam tempo de antena e espaço às propostas musicais deste belíssimo trabalho em…português, língua de Camões, Pedro Homem de Melo, Amália e Pessoa, porque ele efectivamente merece essa vossa mais que obrigatória atenção!
CD Uguru