CantoMaior não é apenas mais um disco – o sétimo – na já longa carreira dos Maio Moço, nem tão-pouco mais um trabalho de Música Tradicional Portuguesa: é um autêntico salto para a frente, um momento de consagração, maturidade e plena afirmação artística de um grupo que sempre revelou uma forma muito própria de encarar a nossa tradição musical.
Inovação, experimentalismo, arrojo, tudo q.b., à mistura com uma invulgar frescura e um rigor e autenticidade que não caem em qualquer espécie de intelectualismo elitista nem de pretensiosismo gratuito, mas tornam o disco aberto a inúmeras camadas de público, tudo isso encontramos nesta nova obra da banda que muitos consideram a “mais portuguesa das bandas portuguesas”.
CantoMaior traz-nos ambiências sonoras pouco habituais em que se casam contributos de diferentes áreas musicais. Não se trata de música de fusão, pelo simples facto de não existir aqui nenhum esforço intencional de fundir seja o que for: os timbres clássicos do oboé e da orquestra de cordas surgem com a mesma naturalidade com que se perfilam os sons claros e vibrantes do cavaquinho e da gaita-de-foles, ou as sonoridades mais raras, ancestrais e quase desconhecidas do rajão, da viola de arame e da velha viola toeira. A par de uma enorme riqueza instrumental, deparamos com um aproveitamento vocal talvez inédito na Música Tradicional Portuguesa, com um trabalho de vozes digno de nota que se traduz em harmonias plenas de vigor e expressividade.
Incluindo canções de uma espantosa diversidade e prodigiosa riqueza, de que não podemos deixar de salientar “Deita pra cá esse adufe”, “Cantiga da volta da segada”, “En el palacio del rey” e “Vimos dar as Boas Festas” CantoMaior desvenda-nos alguns preciosos exemplos das nossas mais profundas raízes e da inesgotável variedade e força criadora do nosso cancioneiro tradicional, desde uma interessante e saborosa cantiga infantil e dois fascinantes temas de inspiração natalícia, até extraordinários romances como “Estava a bela infanta” e “Romance da donzela guerreira”, passando por velhas danças como o curiosíssimo “Sericotão” e por valiosas canções de amor transbordantes de sentimento e emoção como o inesquecível “Meu Bem”.