No mais profundo recanto, do interior ao litoral, no ponto mais alto da serra, nas planícies e nas montanhas, nas praias, nos campos, nas ilhas e nos ilhéus, há um país à janela, olhar terno, nostálgico e quente, há um povo enraizado a transbordar tradições e costumes. Existe um tudo nada que nos faz inteiros e a quem chamamos saudade. O seu pensamento é longínquo e não conhece horizontes, ultrapassa o desconhecido e crava no seu rosto, em cada ruga, as memórias de aromas e sabores, de texturas e paisagens, de sons: uma imensurável roda-viva de sotaques, expressões, cantos, ritmos, melodias, murmúrios e clamores…gentes que usam a voz como fertilizante da alma, tal como as sementes que brotam do seu solo prolífico. Assim a música nasce como expressão maior do seu sentir…é esta a terra que me apaixona!
Se há uma guitarra que é portuguesa, há igualmente um instrumento com tamanha carga simbólica, que aclama a generosidade de um povo, que atravessa gerações e que cada vez mais se faz ouvir – as Violas de Arame Portuguesas. Instrumentos populares, de uma nobreza ímpar, que são o retrato de um Portugal rústico, genuíno, rico e profundo, pequeno em território, mas imenso na sua diversidade cultural.
Um músico por canção – uma canção por viola – uma viola por região…
Este trabalho é (maioritariamente) uma recolha de canções tradicionais oriundas das
regiões a que cada viola pertence e que são parte do nosso imaginário coletivo. É uma viagem musical de norte a sul do país, que passa pelas ilhas e vai além-fronteiras, transformando essas mesmas canções em diálogos entre a guitarra portuguesa e a respetiva viola de arame. Não se pretende criar uma dissertação histórica sobre cada uma delas, sendo que cada descrição que aqui se apresenta é simplesmente o testemunho resumido de cada um dos músicos convidados, que generosamente transmitiram os seus conhecimentos acerca do seu instrumento, bem como a
cedência das imagens. Assim, o intuito deste álbum é tão somente homenagear todas as violas de arame e os seus cultores.