Edição de luxo em digipak com livreto trilingue (português, ingles e crioulo) de 46 páginas a cores.
Os Burghers ou “Mecânicos” Portugueses Os descendentes miscigenados dos portugueses começaram a ser conhecidos pelo termo «Burghers» durante o período holandês, mas já nesse tempo eram considerados racial e economicamente inferiores e apelidados popularmente de «mecânicos» ou “micos”. Falavam o crioulo português que se espalhou pela ilha, a partir das comunidades de mestiços africanos e euro-asiáticos que serviam nas fortalezas em começos do século XVII. A pobreza e o isolamento dos Burghers, parecia aumentar neles o desejo de se identificarem com as tradições «portuguesas» e o orgulho de falarem e cantarem em «português». O linguista inglês Ian Smith residiu em Batticaloa em 1973-74 entre os Burghers portugueses da costa oriental enquanto trabalhava na sua pesquisa para o livro Sri Lanka Creole Portuguese Phonology, no qual cita estatísticas indicando que em 1971, 2,255 Burghers viviam no Distrito de Batticaloa e 1,676 na vila de Batticaloa. Os cafres, conhecidos em cingalês como kapiri ou kapili, chegaram inicialmente ao Sri Lanka com os portugueses, provavelmente nas décadas de 1620 e 1630, e são talvez os topazes, trazidos de Goa, a que se referem os documentos portugueses do estabelecimento dos fortes em Batticaloa e Trincomalee. Durante o período holandês, os cafres casaram-se livremente com os descendentes de portugueses da ilha. No século XVIII os holandeses organizavam-nos para trabalhar, ou como escravos, ou como milícias. Uma vez que o termo holandês Burgher também se aplicava a qualquer pessoa de sangue misto europeu, os portugueses normalmente pertenciam a esta categoria que ainda é usada nos recenseamentos governamentais. Em contraste com os Burghers holandeses, que fundaram uma União Civil Holandesa exclusiva em 1907, os portugueses de classe baixa, ainda em 1975, eram apelidados de «micoburghers, » dando continuidade à tradição de referenciar os seus talentos «mecânicos» nas ocupações artesanais.
A influência da música das comunidades portuguesas no Ceilão é tratada por C.M.Fernando em The Music of Ceylon. O cancioneiro «Kaffrein-Neger Song Portugeise” chama a atenção para a contribuição dos cafres da Africa oriental no folclore crioulo e na cultura portuguesa presente no Sri Lanka. Qualquer que seja o termo usado, kafferinhoe, kaferingha, kaffiringha, cafferina, etc., essa música ritmada, cujos versos transcritos vieram à luz em 1870-80, ainda se pode ouvir no Sri Lanka, um século depois, embora a sua prática se torne cada vez mais rara, próxima da extinção. A gravação da música dos cafres de Putalão representa o único caso que ainda se conhece no Ceilão e, sem dúvida, o último exemplo possível da música afro-cingalesa. Na cultura popular, o ritmo e a melodia da cafrinha tradicional foram adaptados e incorporados na música popular cingalesa, hoje conhecida genericamente como baila. Como resultado do sincretismo cultural recente, a baila de origem portuguesa começa a ser conhecida como uma dança de rua tamil, à medida que o passado vai esmorecendo e a cultura portuguesa é ainda mais assimilada. Mesmo assim, a cafrinha ainda é associada à reputação decadente das festividades dos Burghers portugueses, representada na capa de um álbum popular recente através de um desenho de pessoas mal vestidas, garrafas de aguardente, jogo, dança e a presença de mulheres.