Edição de luxo em digipak com livreto trilingue (português, inglês e crioulo) de 86 páginas a cores.
As “Cantigas do Ceilão” representam uma sobrevivência musical à viva voz da cultura portuguesa implantada na África e na Ásia nos séculos XVI e XVII, revisitando, nas quadras poéticas cantadas, os textos do folclore crioulo luso-asiático coleccionados nas páginas do “Cancioneiro Musical Crioulo”, de Marques Pereira, em começos deste século (Marques Pereira 1901). Nestas cantigas do Ceilão poder-se-á ouvir muitos dos textos coleccionados por Sebastião Dalgado, Tavares de Mello e outros linguistas que estiveram no Ceilão no século passado. Há fragmentos de romances que remontam à época das viagens e todo um folclore que se espalhou pelas comunidades costeiras da Índia, chegando também ao Oriente.
As comunidades portuguesas de além mar serviam como foco do contacto linguístico e do sincretismo do folclore, do qual o crioulo português de Sri Lanka (Ceilão) é um dos exemplos mais persistentes por razões históricas, religiosas e culturais. A cafrinha e o chicote atestam a influência africana numa música sincopada e melódica, cujos versos celebram o namoro da negrinha com humor erótico e satírico. Os versos do «xicote», publicados por Tavares de Mello em O Oriente Portuguez de Goa em 1915, evidenciam um género musical de ritmo sincopado e versos satíricos [“cum lingo de fogo / palavre brazando / quimá sua bôco / assi papiando” (com língua de fogo/ palavras em brasa/queimar sua boca/ falando assim)] (Tavares de Mello 1915).
Explica Fernando que “[A]s palavras ‘Cafferinha’ (o nome indica a origem cafre) e Chikothi são frequentemente usadas como sinónimos. Mas há uma acentuada diferença entre estas duas espécies de música. O Chikothi é sempre lento e majestoso, enquanto que a Cafferinha é mais rápida e turbulenta, e é sempre em 6/8, com umas sacudidelas peculiares, sendo a última nota na pauta geralmente uma semínima.” (Fernando 1894:186) Tavares de Mello estava também consciente da importância da música entre os Burghers portugueses e notou a expressão afro-portuguesa das cantigas: «ás cantigas que se dizem portuguezas, mas que antes parecem dos negros d’África, por exemplo a cafrinha, chicote, batte batte, etc. . . . que são muito populares, principalmente entre os singalezes e os burghers. [O batté batté] é uma cantiga favorita, usada em todas as classes de gente d’esta ilha; as linhas são soltas sem, às vezes, ter combinação uma com a outra”. (cit. In Pieris 1912:71) “Cantigas do Ceilão” são músicas inéditas e únicas, cantadas e tocadas pelos descendentes do património indo-português do Ceilão, gravadas junto das comunidades de “Burghers portugueses” na década de ‘70. As “Cantigas” homenageiam o conhecido poema de Jorge de Sena, “Cantiga do Ceilão”, escrito após uma audição particular das “Cantigas do Ceilão”, às quais os ouvintes vão agora assistir na colecção da Viagem dos Sons.