JOSÉ BARROS / MIMMO EPIFANI
fados do Mundo
Desde há muitos anos que gradualmente, a área musical internacionalmente designada por “world music”, e também por muita gente mais simplesmente conhecida como musicas do Mundo, tem vindo, lenta, mas seguramente e de degrau em degrau, a conquistar o seu legítimo lugar nas preferências musicais de grande parte da população do planeta; e esta preferência deve-se sobretudo à sua inegável alta qualidade e também consequentemente por causa de todos os atributos que fazem dela uma música absolutamente única e um capítulo à parte na cultura musical em geral, não só pela sua grande riqueza melódica e pelas diversas e verdadeiramente únicas concepções estéticas, mas também pelas suas múltiplas sonoridades próprias, por vezes bem invulgares, pelos diversos ritmos, melodias e cantares, que se apresentam geralmente sob a forma de inspiradas composições, através das quais podemos viajar inúmeras vezes, sem haver necessidade de se sair do lugar em que nos encontrarmos na altura:- basta o disco, uma boa aparelhagem, ouvidos atentos, uma certa imaginação e… acima de tudo, bom gosto!
Ora dentro desta mesma área, surgiu há uns anos a esta parte uma espécie de sociedade musical que até agora tem resultado em cheio, quer em espectáculos, quer em projectos discográficos e que por isso mesmo tem acumulado interna e externamente sucessos atrás de sucessos e dado frutos, estética e musicalmente bem sumarentos por sinal; trata-se de uma insuspeita e inóspita dupla ítalo/portuguesa constituída por Mimmo Epifani e José “navegante” Barros que se encontra agora, ainda, embora a meio termo, infelizmente em pleno tempo de pandemia e confusões virais, mais uma vez na crista da onda mercê do lançamento da sua segunda cooperação musical intitulada “Fado attarantado”, um notável projecto que se assume também como uma verdadeira odisseia musical e artística e na qual a dupla cria e desenvolve novas propostas sonoras e rítmicas, sempre com base assente na música popular e tradicional originária das suas duas próprias identidades geográficas e nativas europeias –Itália e Portugal respectivamente, que afinal de contas constituem desde tempos ancestrais duas das regiões mais ricas e convergentes e ao mesmo tempo verdadeiramente fontes de encanto e inspiração em termos das mesmas musicas do mundo!
Mestres na execução e no domínio de variadíssimos instrumentos de corda nomeadamente de diversas e diferentes violas, cavaquinho, braguesa, viola campaniça, bandolim e mandola, entre outros mais, os dois instrumentistas sediaram-se e gravaram no estúdio da Ribeira, em Sintra, no período compreendido entre 2020 e o presente 2021, com produção dos dois próprios artistas e sob a égide de Tó Pinheiro da Silva, na mistura e masterização, uma série de composições, umas delas originais, outras tradicionais e ainda uma série de releituras de outras composições das suas preferências pessoais, que no final de contas confluiram para unir e valorizar duas excelsas culturas musicais, com destaque para um naipe de canções de amor e trabalho que resultam maravilhosamente e unem várias tendências do reportório da música mediterrânea, área na qual os dois brilhantes instrumentistas se constituem como duas das suas mais notáveis e significativas figuras.
Uma fantástica viagem/odisseia que une musicas e culturas ( música popular portuguesa, fado e a musica popular de Salento, sul de Itália ) que teve início na Calábria e o seu terminus num estúdio nos arredores de Lisboa, de dois virtuosos instrumentistas, que se constituem também e simultaneamente como duas verdadeiras torrentes musicais, que na companhia de gente de também grande gabarito musical como são sem dúvida os “nossos” Jorge Fernando e José Manuel David, o espanhol Tonino Carotone e ainda os italianos Francesco Santalucia e Patrizio Trampeti, entre outros, que em conjunto conseguiram fazer deste seu novo projecto, um disco de grande subtileza melódica e vocal e de intensa envergadura instrumental que conquistará facilmente mesmo os mais exigentes adeptos da música popular e tradicional; um trabalho onde ainda merecem destaque especial as grandes e soberbas interpretações de Jorge Fernando em “O meu amor diz que sim” e de José Barros numa sua versão pessoal de um grande sucesso da divina Amália- “Foi Deus”, esta, de facto uma interpretação exemplar, realmente a demonstrar que o instrumentista se deve assumir mais vezes como interprete vocal solista, pois os seus atributos são inegavelmente muitos, e cada vez mais, de nível e de grande qualidade…
CD Finisterre (Itália) / distribuição:- Sons vadios