FABIA REBORDÃO
novas ondas sonoras
O mais recente projecto discográfico de Fábia Rebordão é um disco duplo que se divide em duas fases distintas:-o primeiro deles é um conjunto de doze canções onde ela assume a sua faceta mais pessoal e sem dúvida, de grande interprete, num reportório quase sem resquícios de fado, área que no entanto Fábia faz questão de reassumir totalmente no segundo disco, também contendo doze faixas, onde ela faz um verdadeiro exercício de desconstrução ao interpretar de modo pessoal, mas com grande segurança vocal vários títulos famosos da história do fado onde se incluem alguns popularizados pela diva Amália tais como “Estranha forma de vida”, “Barco negro”, “Vou dar de beber à dor”, Povo que lavas no rio”, etc.; na audição deste novo trabalho onde Fábia assume outras vertentes musicais, para além do fado, uma coisa salta imediatamente à vista ou, se se preferir, ao ouvido:- a confirmação de que a electrónica e alguns ritmos, mais ou menos modernizados, tomaram positivamente de assalto e desde há já vários discos os registos em disco de uma série de artistas que durante muitos anos evoluíram, cresceram e ganharam asas na área do fado, tendo-se até alguns deles tornado nele figuras de relevo…
Assim sucede nas duas facetas do disco “Eu sou”, o terceiro e mais recente projecto a solo desta bela voz feminina que começou por dar nas vistas no programa televisivo “Operação Triunfo” onde, apesar da sempre grande concorrência, conseguiu ser um dos grandes destaques vocais do certame; agora, depois de ter editado anteriormente dois discos em que o fado foi rei e senhor e com a voz já plenamente maturada e estabilizada (é preciso recordar que a cantora emagreceu imenso – nada menos de 45 quilos – e esse facto origina sempre modificações na voz a vários níveis, chegando por vezes inclusivamente mesmo até a alterá-la) aí está ela de novo na crista da onda, que o mesmo é dizer “no olho do furação” num terceiro disco a solo, onde aposta todas as fichas, tentando a sua sorte…
Neste novo projecto, onde, como atrás já referi, a produção avança na direcção de outras cores musicais com inclusão da electrónica e onde os instrumentos acústicos no entanto respiram a espaços, a artista está a cantar melhor que nunca (talvez até nunca tenha cantado tão bem), dona e senhora de um apurado sentido estético e uma perfeita dicção, assumindo-se outra vez, e cada vez com mais frequência, como uma compositora de mérito:- aqui neste novo disco ela assina nada menos de nove de uma totalidade de vinte e quatro composições!
Disco de grande ousadia, quase pop dirão alguns, e de grande risco, onde sobressai uma grande, cuidada e brilhante produção e direcção musical de Jorge Fernando, que outra vez mais aposta e se revela estar sempre na vanguarda, muitos passos à frente de outros produtores nacionais e portanto bem na linha da frente, do risco e da inovação, onde esta verdadeira “afilhada” da grande Celeste Rodrigues e prima em terceiro grau da deusa Amália se expõe como nunca, avançando destemidamente por novos territórios rítmicos e sonoros, alimentados por uma série de músicos competentes, porém sempre na busca incessante de mais, mais alto, mais arriscado, mais alem!
“Eu sou”, está aí portanto agora em julgamento, para que o publico português, o eterno juiz e afinal de contas o grande e verdadeiro fiel da balança, se pronuncie e diga de sua justiça…
2CDs Sony Musica