Editam-se quatro episódios, parte da 1.ª Série de Povo que Canta, que foram transmitidos entre Outubro e Novembro de 1971. Refira-se que as quatro séries que compõem este seriado, produzido e realizado pela Rádio Televisão Portuguesa correspondem aos quatro anos em que foram transmitidos: de 1971 a 1974.
O quinto episódio é dedicado a uma só cantadeira, Catarina Sargento, vulgo Catarina Chitas, trabalhadora do campo e tecedeira. Voltará a aparecer noutros episódios. Sargento era natural de Penha Garcia, Idanha-a-Nova, e Michel Giacometti chegará a ela através de Ernesto Veiga de Oliveira, que anos antes tinha prospectado musicalmente o País, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. É muito interessante não ter sido feito qualquer registo da viola designada por «beiroa». Várias vezes, Catarina Sargento, com um tocador de viola, irá a Lisboa. Aliás, no «catálogo nacional de informantes» disponíveis, esta muIher deverá ter sido das mais requisitadas para entrevistas e gravações.
Em Penha Garcia, em homenagem a «ti Chitas», ergueu-se-Ihe um monumento. Fica à entrada da povoação.
Também devedor ao trabalho de Ernesto Veiga de Oliveira é o sexto episódio. Dedicado a quatro tamborileiros da região fronteiriça de Serpa, Moura e Barrancos, são gravados três tamborileiros (dois em Serpa e um Barrancos) e usa-se o som de um registo anterior, efectuado por Michel Giacometti cinco anos antes, no exemplo de Santo Aleixo da Restauração.
Em Vila Verde de Ficalho encenam a festa com o tamborileiro e o pendão, mais povo, e correm algumas ruas, e em Barrancos e no Monte de Belmeque fazem a gravação no local de habitação ou de trabalho.
À excepção do tamborileiro de Belmeque, todos os outros são apenas usados em. contexto religioso. Este tamborileiro acorria também a festas ditas profanas, como os bailes de Entrudo. No Museu da Música Portuguesa guarda-se correspondência entre Giacometti e este tamborileiro, que denota afectividade e respeito entre ambos, e que também elucida sobre a estratégia de aquisição de instrumentos por parte do etnólogo.
Em Alpalhão, é gravado um fragmento de um auto setecentista, que se levantava apenas na altura do Natal e que servia de meio de peditório. Participado apenas por homens, tinha uma abrangência geográfica muito grande. Foram também gravados alguns espécimes musicais.
Da primeira campanha de gravações – Abril de 1970 -, é o material sobre o qual é montado o oitavo episódio, dedicado à Festa do Espírito Santo. Francisco Franco é aqui a personagem central. O texto lido por Celeste Amorim é quase todo retirado da monografia de Guerreiro Gascon.
Muito do património sonoro e musical aqui registado está hoje extinto ou padece de uma refolclorização. As cantigas de Marmelete são hoje alvo de uma tentativa de recuperação; os tamborileiros estão praticamente extintos: o de Barrancos é um filarmónico e o de Santo Aleixo da Restauração encena e mal toca; em Idanha-a-Nova existe um processo de folclorização em torno destas práticas musicais: romaria, festa…; o teatro popular registado em Alpalhão está praticamente extinto: foi levantado numa freguesia do Crato há cerca de 20/30 anos pela última vez.