– Apresentaremos neste programa vários trechos de música instrumental popular, recolhidos em zonas do país musicalmente bem diferenciadas.
– Para começar, um agrupamento instrumental de Barco, concelho do Fundão, Beira Baixa, vai tocar uma marcha, a que chamam «Moisés». Constituído para cima de há 90 anos, este agrupamento, formados por bombos, caixas, pratos e flautas, participa nas festas locais, sendo o seu repertório, a bendizer, limitado a trechos do tipo da histórica e musicologicamente chamada «música turca». As músicas destes grupos populares, quando transmitidas por via não escrita, como é aqui o caso, devem merecer a nossa atenção.
Na verdade, se na sua generalidade estas músicas pertencem ao repertório passado ou mesmo actual das bandas militares do nosso pais, outras haverá que, embora deturpadas, sobrevivem talvez como reminiscência de músicas trazidas nestes últimos séculos pelos exércitos estrangeiros. Outras ainda, cuja origem é provavelmente mais remota. Lembraremos ainda, a título de exemplo, que a chamada «música turca», precisamente, inclui espécimes que se supõe serem resíduos da música dos exércitos romanos.
– Ouviremos a seguir a «Marcha das Cornetas». A corneta, como se sabe, é um instrumento de bocal, empregado no exército com acompanhamento de tambores: cada companhia tinha uma corneta e dois tambores.
– Estamos em Barreira, no concelho de Condeixa-a-Velha, Beira Litoral. Este tipo de conjunto instrumental popular (gaita de foles, tambor e caixa), bastante raro na região, encontra-se com mais frequência no Minho e Trás-os-Montes. A sua função é festiva.
Vamos ouvir um fandango.
– João Melo, conhecido como o «gaiteiro antigo». Hoje, depois de um breve ensaio, teve que desistir de tocar: sofre do coração, como tantos gaiteiros. Um sobrinho substituiu-o.
João Melo pertence a uma família de gaiteiros e é o depositário, talvez único na região, de um repertorio de músicas cerimoniais, de velhas danças, as quais, hoje em dia, são substituídas, pelos gaiteiros mais novos, por músicas «corriqueiras» do presente. Vamos ouvir agora o «Sanctus», música que os gaiteiros da Estremadura e Beira Litoral, Minho e Trás-os-Montes, tocavam na missa, na parte incluída entre o prefácio e o cânone. Interdito pela igreja, o costume caiu em desuso nestes últimos 20 anos.
– Estamos de novo no monte Totenique, no concelho de Odemira, no Baixo Alentejo, para ouvir um tocador de viola campaniça, conhecido dos telespectadores do nosso programa.
– A viola campaniça, de que demos as características essenciais na rubrica. «O despique e a viola campaniça do Baixo Alentejo», era fabricada na região e servia para animar os bailes e acompanhar o despique. Hoje acompanha apenas os despiques dos mais velhos em raras ocasiões, como, por exemplo, na feira anual de Castro Verde.
– Nas imediações de Estremoz. Manuel Jaleca, da companhia dos bonecos de Santo Aleixo. O Fandango que vai tocar constituía como que acompanhamento do «Passo do Barbeiro», sainete malicioso do repertório da companhia.
– Salir, no concelho de Loulé, Algarve. José de Sousa, flautista popular, executou, num dos nossos primeiros programas, várias modas de baile da região. Mas as coisas não lhe correram bem. Hoje vai tocar – e desta vez com mais brio – numa flauta de cana, por ele próprio fabricada, uma moda de baile – do tipo corridinho -, de que não se sabe o nome (o que acontece com frequência com os instrumentistas populares).
– Um grupo popular (bombos, caixas, pratos e flautas) toca (tocou ou vai tocar) o «Carvalhal», música de grande significado para o povo de Souto da Casa (Fundão, Castelo Branco) que, na Quarta-feira de Cinzas, organiza uma espécie de romaria, comemorativa de uma vitória alcançada, em fins do século passado, a qual lhe permitiu conservar em sua posse os disputados terrenos comunitários do Carvalhal.
– Estamos a ouvir (vamos ouvir) um grupo de Lavacolhos, sempre no concelho do Fundão. «Ao Alto», é o trecho que anima a romaria de Santa Luzia, no Castelejo – uma música entrecortada de gritos e de versos cantados.
– Desejamos sublinhar neste momento que a música instrumental nos parece o aspecto menos significativo da nossa música folclórica, essencialmente vocal e que, pela riqueza da sua expressão, se situa exemplarmente no panorama da música congênere europeia.
Esta afirmação, que não é nova nem exclusivamente nossa, vai contra as recentes declarações, por certo irreflectidas, de um nosso crítico. Com efeito, negar a força viva da nossa tradição musical, equivaleria a frustrar o nosso povo de um dos seus bens mais preciosos.
«O que seria do nosso povo se não cantasse?», já dizia justamente Leite de Vasconcelos.
E se o nosso povo canta quando pode (segundo o parecer de um outro crítico), o certo é que, quando canta, o nosso povo indubitavelmente se encanta de si mesmo. E daqui, tirem os nossos amigos críticos as ilações que quiserem.
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2.ª e 3.ªSérie | Episódios 25 a 28
DVD com Gravação: 1970.Abril [1.ª campanha] – 1970.Maio-Junho [2.ª campanha] – 1971.Junho [3.ª campanha] – 1972.Setembro-Outubro [4.ª campanha]
Textos de Paulo Lima, José Alberto Sardinha – Entrevista a Alexandre Branco – Portfolio fotográfico de Augusto Brázio
Category: DVD
Weight | 0,5 kg |
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