LIEDER, CANÇÕES, ROMANZAS
NUNO VIEIRA DE ALMEIDA – PIANO
ANA MARIA PINTO – SOPRANO
JOÃO RODRIGUES – TENOR
Esta gravação das canções portuguesas, italianas e alguns lieder de Vianna da Motta foi, na sua grande maioria, realizada em 2009 na mesma altura em que gravámos (a Ana Maria Pinto, o João Rodrigues e eu) o CD já publicado, com obras de Fernando Lopes Graça. O simples facto de estarmos já em estúdio e termos a equipa reunida facilitava a realização simultânea deste projecto, sabendo sempre que seria para publicar mais tarde.
Apesar de Vianna da Motta ser até hoje, um dos compositores portugueses mais reconhecidos, essa situação não beneficiou em nada a publicação das suas obras.
A canção inédita Fado, de Vianna da Motta só foi incluída graças á generosidade de João Borges de Azevedo que me ofereceu a bela edição que publicou. Para ele um abraço de agradecimento.
Nascido em São Tomé, José Viana da Mota demonstrou um talento musical de tal modo precoce que logo aos seis anos atrairia a atenção e a protecção do Rei D. Fernando II, melómano entusiasta, e da sua segunda mulher, a Condessa da Edla, a antiga cantora de Ópera norte-americana com quem o viúvo de D. Maria II, melómano convicto, contraíra um casamento morganático, para grande escândalo dos sectores mais conservadores da Corte e da sociedade portuguesas. Concluído o curso do Conservatório aos quatorze anos, onde tivera como professores Azevedo Madeira e Freitas Gazul, foi mais uma vez pela intervenção mecenática do soberano que nesse mesmo ano Viana da Mota seguiu para Berlim, onde foi admitido no Conservatório Scharwenka, na classe de Piano de Xaver Scharwenka, vindo também a ter aulas particulares com Carl Schäffer.
Para o jovem pianista, tratava-se não só de uma oportunidade de formação instrumental avançada então indisponível em Portugal como sobretudo de um mergulho privilegiado no circuito musical do pleno Romantismo alemão, numa tradição que entroncava na herança de Beethoven, e em particular nos círculos mais avançados do pensamento e da criação musicais europeus, marcado pelas figuras emblemáticas de Liszt e Wagner. Em 1884 ficaria deslumbrado pela sua primeira visita a Bayreuth, ainda na primeira década do Festival Wagner sob a alçada do próprio compositor. No ano seguinte, seria ouvido por Liszt em Weimar e encorajado por este com um “Pode voltar” carinhoso que, mais do que garantir-lhe um ensino individualizado directo pelo velho Mestre (que de resto morreria logo no ano seguinte) lhe abria sobretudo as portas do círculo de algum modo iniciático dos compositores, intérpretes e pensadores da chamada “Música do Futuro”. E em 1887 esta filiação lisztiana e wagneriana seria ainda reforçada pela sua admissão como aluno de Hans von Bülow, em Frankfurt.