Jorge Dias (1907-1973) conseguiu nos estudos que realizou sobre a cultura portuguesa, a partir da década de 1930, devolver-nos Portugal, um país silenciado pela ditadura do Estado Novo (1926-1974).
É de 1963 o seu texto sobre o Cavaquinho, agora reeditado (incluindo a tradução inglesa). Neste estudo sobre a “difusão de um instrumento musical popular” revela percursos da sua presença na diáspora portuguesa e a sua adopção em novos contextos culturais e linguísticos que nos dizem muito sobre a permanência e mudança de práticas musicais pouco conhecidas ou ignoradas deliberadamente por um folclorismo bacoco e redutor da liberdade das comunidades.
Mas Jorge Dias foi sobretudo um profundo conhecedor do país, “cedo demonstrou uma forte atracção pela vida rural percorrendo com amigos o Norte do País, passando temporadas nas aldeias e chegando mesmo a trabalhar num circo, por divertimento e solidariedade com os artistas” (J.M. Sobral, 2007*).
Do grupo de amigos que o acompanhavam, merecem especial destaque Fernando Galhano, Ernesto Veiga de Oliveira, Margot Dias e Benjamim Pereira, que viriam a estar na génese do Centro de Etnologia Peninsular e do Centro de Estudos de Antropologia Cultural do Museu de Etnologia.
Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Orlando Ribeiro, Madalena Cabral e Agustina Bessa-Luís são alguns dos artistas, escritores, e cientistas com quem partilhou saber e reflexão sobre Portugal, de que todos beneficiaram.
Domingos Morais, 2022