Eurico Thomaz de Lima nasceu na cidade de Ponta Delgada, ilha de S. Miguel, Açores, no dia 17 de dezembro de 1908. Filho do violinista António Thomás de Lima e discípulo de Alexandre Rey Colaço e Vianna da Motta, terminou, em 1928, o Curso Superior de Piano no Conservatório de Música de Lisboa e no ano seguinte a Classe de Virtuosidade com a mais alta classificação até então concedida.
A sua obra, de cunho nacionalista e com uma significativa produção para piano, onde os recursos sonoros do instrumento espelham uma evidente concepção pia-nística, caracteriza-se por um constante equilíbrio entre a ideia e a forma. Compositor premiado pela Emissora Nacional de Radiofusão Portuguesa com Duas Canções para Canto e Piano (1940-1941), a sua obra revela influência dos neoclássicos do século XX e dos nacionalistas românticos, conciliando formas e linguagem tradicionais com folclorismo e apontamentos de modernidade.
Eurico Thomaz de Lima viria a falecer na cidade da Maia, a 8 de junho de 1989, depois de ter exercido uma carreira notável de pianista, pedagogo e compositor, numa articulação e integração extraordinariamente rica na atividade tripartida que realizou mas percorrida num só caminho – o da arte na sua plenitude.
As obras de Eurico Thomaz de Lima para as crianças são um testemunho inequívoco da sua dedicação ao ensino. Abarcando progressivamente os aspectos básicos da técnica do instrumento e de descoberta da expressividade musical, as suas obras constituem repertório significativo na literatura musical portuguesa para a infância. A sua produção inclui mais de uma centena de obras para piano solo e em dueto, cujo valor estético e pedagógico é inegável.
“Interpretar as obras para a infância de Eurico Thomaz de Lima incluídas neste CD foi para mim um desafio particularmente estimulante: Conhecendo parte da obra concertística do compositor, tendo inclusivamente gravado em CD as suas canções com o soprano Sara Braga Simões, juntamente com algumas peças para piano, despertou-me sobretudo a forma como estas pequenas peças espelhavam uma concepção pianística e musical em que me era dado reconhecer traços inequívocos do seu mestre mais influente, José Viana da Motta, a quem venho dedicando significativa parte do meu estudo. Na verdade, não apenas no interesse manifesto pelas raízes de tradição popular espelhadas na sua obra, mas também pela constatação de numerosos pontos em comum no que diz respeito aos princípios basilares da técnica pianística, espelhados nomeadamente nas cuidadosas indicações de dedilhação tanto nos Duetos como no Gradual, Thomaz de Lima encarna na perfeição o papel de verdadeiro herdeiro e continuador das preocupações estéticas e peda-gógicas do seu mestre. Acresce ainda a este meu carinho por estas obras o facto de eu ter tido na minha juventude o privilégio de assistir ao concerto de jubilação do compositor no Conservatório de Música de Braga, onde era na altura aluno.
Tive então oportunidade de me aperceber da sua enorme dimensão pianística e musical. Uma nota final de curiosidade: para a interpretação dos Duetos seriam sempre necessários dois pianistas e quatro mãos; no caso desta gravação, resolvi, no entanto, assumir o desafio de me colocar na pele de ambos, tendo gravado as duas partes em pistas diferentes. Não sendo uma prática inédita, ela contém, porém, desafios muito particulares, nomeadamente o difícil desígnio de procurar o equilíbrio da espontaneidade em ocasiões temporalmente desfasadas.”
Luís Pipa