“Luís Cília foi o primeiro cantor de intervenção que, no exílio em França, denunciou a guerra colonial e a falta de liberdade em Portugal. Gravando ininterruptamente a partir de 1964, realizou uma actividade musical intensa tanto discográfica como no que se reporta à realização de recitais tendo-se profissionalizado em 1967. Mas para além disso, Luís Cília, durante vários anos, dedica-se ao estudo da harmonia e composição o que é algo invulgar no universo dos cantores de intervenção.”
Eduardo M. Raposo, in Cantores de Abril.
Nascido em Angola em 1943, Luís Cília veio para Portugal aos 16 anos. O contacto com a Casa dos Estudantes do Império (CEI), residência de estudantes universitários vindos das ex-colónias, despertou-lhe uma tendência para a actividade política.
Foi para Paris em Abril de 1964 como forma de recusa numa participação na guerra colonial que tinha eclodido em 1961 em Angola. Em Paris, teve a preocupação de se dedicar ao estudo da música, designadamente, à composição.
Luís Cília compôs temas musicais utilizando poemas de grandes poetas portugueses, nomeadamente:
Afonso Duarte;
Almeida Garrett;
António Gedeão;
Carlos de Oliveira;
Daniel Filipe;
David Mourão Ferreira;
Eugénio de Andrade;
Fernando Pessoa;
Guerra Junqueiro;
José Gomes Ferreira;
José Saramago;
Luís de Camões;
Manuel Alegre;
Miguel Torga;
Rui Namorado;
entre outros.
Tem um importantíssimo papel na divulgação da poesia portuguesa pelos recitais em quase todos os países da Europa. Em Paris, cidade onde se exilou, o seu trabalho foi intenso e ininterrupto, desenvolvendo uma actividade num país livre sem que vivesse uma perseguição política directa como os que viviam em Portugal.
A sua obra foca-se sobretudo em quatro grandes temas:
O exílio;
A repressão em Portugal;
Denúncia da Guerra ultramarina;
Busca incessante pela liberdade.
O Povo está a morrer,
Para a guerra é mandado,
Apenas para defender
Aquilo que foi roubado.
No campo ou na cidade
O nosso povo não come
Mas tem a liberdade
De morrer de fome.
Reformas na Educação
Pedem os nossos estudantes,
Metem-se todos na prisão
E fica tudo como dantes.
Mas isto vai acabar,
Vamos dar cabo do fascismo,
Então só Povo há-de mandar
Quando houver paz e socialismo.
Luís Cília
Duas Melodias, in Portugal-Angola: Chants de Lutte, 1964