Edição de luxo em digipak com livreto bilingue (português, inglês) de 130 páginas a cores.
Os portugueses começaram a navegar as ilhas orientais da Pequena Sunda depois da conquista de Malaca em 1511. Os missionários católicos, uma constante no aparato do império colonial lusófono, estabeleceram uma missão na ilha de Solor, de onde os padres eram enviados para Lifau, em Timor, para conversão dos nativos ao catolicismo. Em 1769 Dili foi estabelecida como uma guarnição portuguesa, uma acção que terá alienado muito mais os timorenses recalcitrantes em se submeterem ao controle military português. Mas foi só em meados do século XX, durante a presidência autocrática de Salazar, que as infra-estruturas cívicas e religiosas de Timor foram abaladas e Timor Português assumiu o carácter de estado corporativo com autoridade centralizada em Dili. Em Agosto de 1975 os portugueses deixaram Timor Leste durante o period de instabilidade civil. Três meses depois, a 7 de Dezembro de 1975, os militares Indonésios iniciaram uma invasão de grande escala e ocuparam a ilha de Timor Leste até à sua recente libertação. É possível que tenha sido o toque mensageiro do korneta (corno de búfalo) e não, como os livros de História nos contam, o grande comércio de sândalo que terá atraído primeiramente os exploradores portugueses para Timor no século XVI. Se assim foi, «Tata – Olhando o Horizonte» é uma viagem no tempo e no som, começando com o chamamento eterno do korneta (corneto de bufalo) de João Betro, e terminando com a beleza etérea da dança de tebe (vide faixa 19) da vila de Olpana, próxima do Monte Ramelau.
Entre os exemplos musicais é possível identificar como a tensão foi aumentando na vida e na música timorense durante a segunda metade deste século. Dá-nos conta da tensão e do lirismo simultâneos nas interpretações do famoso violinist Abril Metan que sobreviveu às atrocidades da segunda guerra mundial, quando as forças australianas e japonesas aproveitaram a neutralidade política de Timor, então português, para aí desenharem os seus jogos de guerra. Metan atingiu a sua maturidade artística durante a era mais progressiva da colónia quando os administradores civis – na sua maioria timorenses – substituíram os comandantes militares portugueses e os planos fiscais de Salazar começaram a dar frutos através da construção de escolas e de estradas. Testemunhando os anos setenta incluímos o «Imi Atu Ba Ne Be» (Onde é que vais?), da Fretilin, quando o nacionalismo atingiu o seu ponto mais alto. É nesta altura que as antigas melodias timorenses e a música associada ao ritual adquirem novos significados através da palavra, procurando assim reforçar o orgulho na cultura indígena e a mudança na orientação política de uma nação emergente. Tentamos não chorar com a triste melodia «Halibur Maluk» gravada nos anos oitenta, talvez a década mais brutal que os timorenses tenham conhecido, e que contrasta fortemente com a força, a esperança e a complexidade metafórica que o popular cantor contemporâneo e Timor, Amandio Araújo, é capaz de projectar nos anos noventa, apesar das severas restrições da censura. Ele representa a época em que Xanana Gusmão reorganizou a resistência numa imponente e efectiva força guerrilheira, e em que os jornalistas – cujas entradas foram proibidas em Timor desde 1975 – conseguiram clandestinamente «capturar» em vídeo o massacre no Cemitério de Santa Cruz. Os músicos desta década são claramente influenciados pelo estilo pop internacional e utilizam uma série de sons electrónicos que a revolução tecnológica disponibilizou desde os anos 60.