COLEÇÃO DO PAVILHÃO DE PORTUGAL DA EXPO98
Edição de luxo em digipak com livreto bilingue (português e ingles) de 72 páginas a cores.
A makwayela é um modo expressivo que desempenhou um importante papel no universe da cultura do Sul de Moçambique. Inclui o canto, a dança, a literatura oral e o trajo elaborado. Trata-se de um modo desempenhado por grupos de homens (embora excepcionalmente as mulheres também possam participar) que se apresentam nos bairros de Maputo e nas pequenas localidades do Sul.
Os textos da makwayela revelam um carácter socialmente integrativo, e estão cheios de pequenas parábolas e alegorias. Referem-se à família, à saúde e à doença, à religião, ao casamento, à guerra, à morte. É enorme a sua importância como meio de regulação nas famílias, nos locais de trabalho, no divertimento, e na sociedade moçambicana em geral.
Com excepções, as canções da makwayela apontam as regras da conduta socialmente aceite e desejada. São um elemento funcional na cultura desta região de África.
A makwayela nasceu e desenvolveu-se de acordo com condicionantes históricas da África Sul-Oriental, e Moçambicana em particular. Mais do que qualquer outro modo
expressivo, a Makwayela reflecte os acontecimentos históricos que formaram a moderna sociedade moçambicana, e transformaram Moçambique numa peça importante para o sistema económico da África Austral. O seu itinerário histórico inclui uma génese que ocorreu nos anos em que se estabeleceram os itinerários migratórios de Moçambique para o Transvaal; a expansão na cidade de Lourenço Marques quando aí se estabeleceu um grande número de migrantes retornados do Transvaal; o seu enorme crescimento quando foi adoptada e alimentada como um símbolo nacional – ao longo da Primeira República (1975 ); e o seu declínio com o advento da Segunda República (1988), quando ocorreram grandes mudanças no sistema económico moçambicano e o estado deixou de patrocinar a makwayela.
A makwayela desempenhou um papel importante na expressão e articulação da identidade nacional. Evidenciava propriedades incorporativas que permitiram a sua utilização como um instrumento ideológico sincrético. Tais propriedades correspondiam aos paradigmas fundamentais para a existência de Moçambique como uma nação Africana: a makwayela, tal como o país, era moderna, africana mas não exclusivamente, comunal, e proletária.
O papel do comportamento expressivo como resposta adaptativa à mudança no Sul de Moçambique é esclarecido pelo estudo da performação coral. Assim, a performação de determinados modos expressivos pode ser entendida de duas maneiras diferentes como uma estratégia para operar num novo ambiente. Em primeiro lugar, a performação coral funciona como uma estratégia de solidariedade funcional tanto para os cantores como para as audiências, uma vez que uma experiência histórica e emocional comum é canalizada através de sensações visuais, sónicas e motoras. Em Segundo lugar, os grupos corais em Maputo agem como associações voluntárias que ajudam a promover os percursos migratórios e a adaptar os migrantes urbanos à realidade cultural, económica e social da cidade. Se por um lado os novos urbanistas se encontram limitados e condicionados, por outro lado estes grupos fornecem um espaço essencial para interacção pessoal e integração urbana. A operação das redes dos grupos, e o seu modo de acção na sociedade, providenciam aos recém-chegados os instrumentos necessários para poderem operar dentro dos condicionamentos física e socialmente impostos por um novo meio urbano.