PAULO BRISSOS – em dose dupla

Paulo Brissos

PAULO BRISSOS
em dose dupla

Costuma o povo português dizer na sua imensa e sábia sabedoria que “mais vale cair em graça que ser engraçado”, que o mesmo será dizer que para tudo na vida é preciso ter nascido com o rabo virado para a Lua sendo necessário, fundamental mesmo, ter sorte e se possível muita, muita sorte; na área musical, como afinal em tudo na vida, há os filhos e há os enteados, sendo os primeiros destes aqueles que, vá-se lá saber porquê, recebem  de mão beijada todos os benefícios, publicidade e promoção possível apesar de essa preferência ser muitas vezes extremamente discutível até porque a real valia do que propõem não justifica de modo nenhum essas “ajudinhas” e outros, que por maior que seja a qualidade dos seus trabalhos, tem de penar imenso e muitas das vezes a quase mendigar para conseguirem da parte dos media nacionais um pouco de atenção e destaque para os seus discos em português que, até por isso mesmo, lhes deveriam merecer mais respeito e acima de tudo mais e maior cuidado e…especial carinho!

O caso especifico de Paulo Brissos é um dos casos em que apesar da flagrante e evidente muita qualidade dos seus trabalhos, quer em grupo (“Depois do fim do Mundo”- de Brissos e os conselheiros de estrada), quer a solo (“Roque o português”) a atenção dos vários ditos influenciadores portugas tem-se revelado infelizmente insuficiente e diminuta, quando não existente mesmo, isto apesar de ambos os discos se pautarem por uma evidente qualidade, quer sejam vistos a nível de textos, quer de instrumentação ou a nível vocal; e numa altura em que muitos dos artistas/grupos nacionais se tenta projectar cá dentro e lá por fora, erradamente a meu ver, cantando na língua de David Beckam e de Shakespeare, o cantor  de Vila Franca de Xira ( linda terra ribatejana do meu querido amigo e companheiro de lides benfiquistas – o saudoso matador de toiros Mário Coelho)  persiste em fazê-lo na língua dos nossos míticos e eternos Fernando Pessoa e Luis de Camões; e se esse facto lhes deveria, obrigatoriamente granjear apoios e simpatia dos mesmos media nacionais, curiosamente estes quase que ignoram esse facto importante, preocupados que estão em poluir as ondas hertezianas nacionais com canções em…  inglês!

Longe vai já o tempo em que Paulo Brissos, surgiu a cantar no Festival da Canção de 1993 e daí para cá a sua progressão tem sido a todos os títulos meteórica, percurso até agora plenamente justificado pela edição de nada menos de sete álbuns ( onde se inclui um registo ao vivo), o que justifica e evidencia de certa maneira uma grande capacidade de composição, quer no campo do rock propriamente dito, como é caso do disco em perfeita comunhão com os seus vários comparsas da altura -os Conselheiros de Estrada, onde é por demais evidente um regresso às sonoridades dos anos 70 e onde impera um expressivo hard rock, por vezes quase metaleiro, uma mão cheia de chamativos riffs e grandes malhas de guitarra (um projecto datado de 2015 agora em reedição), quer na área do soft pop rock de que o último disco a solo é prova evidente e  em que as composições, ainda e sempre de influencias nitidamente blues, coexistem em perfeita comunhão com uma mão cheia de canções pop/rock de grande impacto, expressividade e intensidade e onde o cantor português brilha a grande altura, constituindo-se até mesmo como um dos mais inspirados, ambiciosos e singelos cantautores nacionais, aqui arriscando abordar de modo pessoal e aberto uma evidente critica social  e até mesmo uma sátira  deveras divertida e acutilante, que não deixam nada nem ninguém indiferentes; resta agora que os famigerados  media nacionais, tenham de uma vez por todas vergonha na cara, especialmente as rádios e as televisões nacionalizadas, nossas, pagas portanto com o valioso dinheirinho dos milhares de contribuintes, abandonem as inenarráveis, pouco criativas e malditas playlists e de uma vez por todas comecem a privilegiar os obras musicais paridas pelos artistas nacionais e acima de tudo as que são especialmente cantadas em português, em detrimento de muitas outras obras, algumas das vezes de segunda escolha ou de discutível qualidade que desaguando aos trambolhões por aí abaixo, chegam do estrangeiro, verdadeiramente  como dizem os brasileiros “sem lenço, sem documento” mas conseguindo, graças sabe-se lá porquê ou a quê, “ganhar antena” e conseguindo mesmo alcançar muitas vezes uma questionável e pouco ortodoxa notoriedade!

 
BRISSOS E OS CONSELHEIROS DE ESTRADA ROQUE PORTUGUÊS PAULO BRISSOS
 

CDs Prime Time (2015) e Edição de autor (2021)