Nos primeiros quatro episódios, gravados na segunda metade do mês de Abril de 1970, durante a 1.ª campanha, são editados fragmentos dos inquéritos efectuados nas regiões do Algarve, do Baixo e do Alto Alentejo.
Cada um destes episódios, o que de futuro não será uma norma, trata uma só localidade.
Antecede os textos, cuja leitura pertencerá sempre a Celeste Amorim, uma introdução. É um curto texto sobre regressos e vontades de reconstituir um arquivo. Importa voltar a ele no fim deste percurso.
No primeiro episódio, onde se arquiva e edita um canto de afago e incitamento, mais do que divulgar um canto de trabalho, Giacometti explica como se deve proceder a um inquérito: uma caracterização, uma entrevista, a recolha no local e em contexto, o mostrar o equipamento (gravadores, microfones, câmaras…).
É um episódio complexo, o mais curto de todos, que apenas serve de apresentação. O etnólogo apresenta-se a si e ao seu método.
É também o início de uma exposição demorada, em cada episódio, do etnólogo, que não teme mostrar-se. Entre o povo. Por vezes em dificuldade. Atente-se à entrevista.
A gravação é feita num ferragial próximo de Vila Verde de Ficalho, e António de Assunção Lopes surgirá mais tarde integrado no grupo coral desta localidade. Aí de barba feita, banho tomado e roupa de domingo. Já sem o irmão.
O segundo episódio regista uma festa, a Festa da Santa Cruz, que ainda hoje se levanta na aldeia da Venda, freguesia de Santiago Maior, Alandroal. Esta festa, ou melhor, o Cântico ao Horto das Oliveiras, acontece a 3 de Maio.
Michel Giacometti, que em 1967 fez inquéritos na região sacaia e em Monsaraz, onde gravou este cântico religioso, contribuirá com dinheiro para que esta festa se realize e se possa gravar.
Contou neste projecto com o apoio do Círculo Cultural de Estremoz, fundado após o fecho do Cineclube de Estremoz: Aníbal Falcato, Armando Carmelo, Joaquim Vermelho, entre outros, serão apoios importantes. Esta amizade advirá, pois, de relações cineclubistas, mas também da presença de uma figura muito importante: Gustavo Marques, um arqueólogo e arquitecto que o levou a conhecer os Bonecos de Santo Aleixo, cinco anos antes.
Esta festa, uma festa de fronteira, parece ter a sua origem na Batalha do Salado e dela ser eco. O texto cantado é uma silva com fragmentos de diversas origens. A cruz que se levanta é cópia do relicário que existe na igreja de Vera Cruz (Portel), e onde se guarda, e cultua, uma das mais antigas relíquias do lignum crucis conhecidas na Península Ibérica.
O terceiro episódio parece ter, na sua base, a intenção de gravar música instrumental em Salir, uma flauta de cana. José de Sousa já fora gravado oito anos antes por Giacometti.
As gravações, que ocorreram no castelo, tiveram um participante extra: António Rosa Assunção, das Barrosas, lugar próximo de Salir. Este homem, caçador de profissão, poeta, improvisador, tocador de guitarra e fadista, esmagará com a sua presença o calmo José de Sousa.
Um dos aspectos mais interessantes deste episódio é o riso. Quem hoje se riria destas estórias?
O quarto episódio reconstitui um canto hoje perdido, e na altura já desfuncionalizado. Se aqui e além, quase sempre sustentados por instituições folclóricas, ainda se ouvem estes cantos pertencentes aos 12 dias. Apenas um homem, que já não pode cantar o conhece.
Era também o único lugar onde o resultado do peditório revertia para a igreja. Há cerca de cinquenta anos ainda se juntou dinheiro para comprar uma cruz de latão para acompanhar os mortos, que a velha estava gasta do uso.
Ainda foi levantada esta oração a seguir ao 25 de Abril, através da vontade do Professor Joaquim Vermelho.
Também este episódio teve o apoio do Círculo Cultural de Estremoz.