A desgraça, o passado, Lisboa, Alfama e Mouraria assim como a guitarra e o próprio fado sobressaem nas temáticas das primeiras gravações de Ercília Costa. A sua voz privilegiada, de sensibilidade musical notável e fraseado requintado, e o acompanhamento instrumental de Armandinho e Georgino de Sousa com as suas respectivas características interpretativas apresentam-nos neste disco, directamente, para documentação, estudo ou tão só fruição estética ou curiosidade histórica, o som do fado no final de 1929 e 1930.
Ercília Costa nasceu na Costa da Caparica em 3 de Agosto de 1902, filha de pescador da terra. Na sua adolescência, trabalhou durante algum tempo como costureira, mas o seu talento inato como cantora depressa atraiu a atenção de uma casa de fados da zona, o “Retiro Ferro de Engomar”, onde cantou perla primeira vez quando ainda era adolescente.
Em meados da década de 20, era já uma artista nacionalmente conhecida e admirada. À medida que foi cantando regularmente nos mais diversos locais, de salas de espectáculos e casa de fados, passando por festas privadas, depressa alcançou fama de notável cantora, mas também a alcunha de “A Santa do Fado”, devido ao facto de habitualmente cantar com as mãos postas.
Da sua primeira sessão de gravação para a Columbia, em Junho de 1929, resultaram apenas dois fados. Um pouco mais tarde, nesse mesmo ano, fez ainda uma solitária gravação para a etiqueta Brunswick.
Entretanto ia actuando com regularidade no Luso e noutras casas de fado de Lisboa.
Mais tarde veio a gravar também para a Odeon com enorme sucesso.
Ercília Costa faleceu em paz, no dia 16 de Novembro de 1986, na sua casa de Algés, em Lisboa. Ela foi, sem qualquer dúvida, a primeira estrela internacional do nosso país, com actuações em vários países e alcançou o estatuto de verdadeira lenda. Estamos, por isso, orgulhosos se poder editar estas raras e extremamente importantes gravações, mostrando assim, a um numeroso público, aquém ela pertence, um dos maiores talentos da história do fado.