Edição de luxo em digipak com livreto bilingue de 126 páginas a cores.
A chegada dos colonos portugueses marcou o início da progressiva ocidentalização dos costumes, da economia e do uso do espaço, submetendo política e culturalmente as populações de substracto indígena e africano. Acompanhando a desintegração das identidades subalternas, estabeleceu-se o predomínio de valores como a língua portuguesa, o catolicismo e a economia de mercado, embora permaneçam visíveis até hoje resíduos significativos das culturas indígenas e africanas no linguajar, nos costumes e nas práticas religiosas regionais.
O cavalo marinho de Mestre Gasosa
Cada reisado específico é reconhecido pelo nome de seu Mestre. O Cavalo Marinho de Mestre Gasosa (apelido do vigia noturno José Raimundo da Silva) é muitas vezes também chamado Cavalo Marinho de Bayeux, cidade em que moram seus integrantes, pela excelência e repercussão da sua actividade.
Segundo Mestre Gasosa, o brinquedo completo requer a apresentação de 28 personagens. Hoje, no entanto, ele apresenta-se com um número variável, quase sempre dependendo da remuneração, do tempo disponível e das condições de apresentação. Os personagens que aparecem com mais frequência são: Mestre (líder do grupo) e Mateus, responsáveis pelos principais discursos e diálogos e que lideram a entoação dos cantos; Birico e Catirina (homem com rosto pintado de negro, usando vestido e peruca de mulher), que reforçam as funções anteriores; Contramestre,
Galantes (duas fileiras de soldados, cada uma com cerca de cinco pessoas) e Damas (dois meninos ou, mais recentemente, meninas) que executam as danças colectivas, sendo, em algumas delas, acompanhados do Mestre e/ou demais personagens.
A música do cavalo marinho
Três termos são usados pelos integrantes do Cavalo Marinho de Bayeux para subdividir seu repertório: aboio, forma de cantar estrófica e sem acompanhamento instrumental usada pelos vaqueiros para tanger o gado; canto ou toada, de tipo formal variado (a – estrofe em ritmo ternário de tipo recitativo/refrão com ritmo binário; b – estrofe/refrão ou solo/ resposta, ambos com ritmo binário bem definido); e dança, de forma igualmente variada. Enquanto a forma e a função específicas do aboio são mais imediatamente compreensíveis pela importância do boi no desenvolvimento do brinquedo, a distinção entre canto e dança é mais subtil, uma vez que as partes dos cantos em ritmo binário são dançadas, enquanto várias danças se executam sobre trechos musicais cantados. O que se observa, no entanto, é que as peças denominadas cantos ou apresentam personagens, ou revelam nos seus textos momentos importantes da trama, Enquanto que as danças enfatizam uma dada coreografia como, por exemplo, o entrelaçamento de arcos ornamentados por fitas ou determinados tipos de sapateado.
Todos estes géneros são cantados em voz aberta, sendo que, nos aboios a intensidade é bem maior; as estrofes dos aboios são em geral entoadas alternadamente por dois cantores (Mestre e Mateus, nos exemplos registados aqui), sendo, em alguns casos, concluídas em uníssono. O uníssono também é o intervalo predominante quando a forma é estrofe/refrão, embora o canto em terceiras paralelas seja utilizado, eventualmente, por determinados cantores. Sempre que o canto é colectivo (em uníssono ou em terceiras) a voz principal apresenta-se ligeiramente antecipada em relação às demais.