Edição de luxo em digipak com livreto bilingue de 94 páginas a cores.
Para os caboverdianos a música é uma presença fundamental na vida quotidiana. Além de despertar um sentimento de ligação com a sua terra, com os seus problemas e com a sua vida, há uma série de momentos do quotidiano de qualquer comunidade caboverdiana – quer seja numa das ilhas quer seja em Lisboa, Roterdão, Boston ou Dacar – que são marcados pela presença da música feita e tocada por caboverdianos. Para o Estado de Cabo Verde a música é, para além de um rico património cultural, uma importante actividade económica que recolhe uma assinalável quantidade de receitas.
A maior parte da música tocada e ouvida pelos caboverdianos inclui os géneros tradicionais que se desenvolveram no arquipélago ao longo da história e que são fortes componentes na definição da cultura dos caboverdianos. São géneros musicais em cuja génese estiveram, naturalmente, elementos europeus e africanos. Os géneros musicais tradicionais mais divulgados, que são hoje cultivados com enorme vigor, incluem: a morna, a coladeira, o batuque e o funáná.
As actividades que envolvem a música, previamente organizadas ou de carácter espontâneo, são diversas. Dentre estas destacamos as noites caboverdianas, os bailes, associados às festas religiosas ou profanas, o trabalho, como contexto de expressão musical, os rituais religiosos ou sociais e os momentos de expressão política.
As noites caboverdianas não são exclusivo de nenhuma das ilhas do arquipélago nem de nenhuma das comunidades caboverdianas espalhadas pelo mundo mas encontram um cenário especialmente propício no ambiente cosmopolita e boémio da cidade do Mindelo, bem como no ambiente turístico da ilha do Sal. Quanto à ilha de Santiago, muito embora na cidade da Praia seja possível assistir todas as semanas a noites caboverdianas, – quer em hotéis quer em restaurantes ou casas particulares – encontram-se, nas localidades do espaço rural, outras formas de convívio e de prática musical. Entre estas podemos destacar as festas religiosas com os respectivos bailes populares ao ar livre, ou os bailes de fim de semana organizados em espaços particulares com acesso público. Neste contexto predomina a prática do funáná, do zouk e outros géneros musicais propícios para a dança, quer através de gravações, quer tocados por grupos que integram instrumentos electrónicos amplificados (Faixa 7 e 10). O batuque é o género privilegiado das festas familiares, de casamentos ou de baptizados.
Quer seja protagonizado por grupos informais, constituídos pelos próprios participantes na festa, quer seja protagonizado por grupos formalmente estruturados e contratados para o efeito, é realizado ao ar livre, no pátio interior das casas designado por terreiro. Os grupos de batuque formalmente organizados (Faixa 11 e 14) marcam também a sua presença actuando em circunstâncias sociais especiais como, por exemplo, a recepção de personalidades importantes ou inaugurações.
Um outro importante contexto de prática musical em todo o país, são os Festivais. Tendo lugar ao ar livre, de preferência na praia, onde é montado um palco, os Festivais são cenários em que se reúnem centenas de pessoas para ouvir música, para dançar e para conviver. Aí, durante um ou mais dias, actuam diferentes grupos e cantores caboverdianos. Merece destaque, pela sua antiguidade, pela quantidade de grupos participantes e pela projecção internacional, o Festival da Baía das Gatas, em São Vicente, realizado todos os anos no mês de Agosto durante todo um fim de semana. Neste Festival costumam participar, para além dos grupos locais, músicos na diaspora e mesmo grupos estrangeiros.
Resta destacar o repertório musical associado ao trabalho e aos rituais religiosos domésticos, as chamadas Ladaínhas. No domínio do trabalho, a música vocal tinha lugar, outrora, nas tarefas comunais do ciclo dos cereais, especialmente do milho, como a monda ou a colheita. Estes repertórios estão praticamente desaparecidos. O trapiche – local onde se encontra o engenho para esmagar a cana sacarina a partir da qual é destilada a aguardente de cana – era também um contexto privilegiado para o canto. Todavia, o tipo de repertório designado por cantigas de cola boi está em acelerado desaparecimento dada a mecanização de quase todos os trapiches das principais ilhas que têm traduções nesta indústria: Santiago, São Nicolau, Fogo e sobretudo Santo Antão. Neste CD está documentada uma cantiga de cola boi, de Santo Antão