MARIO CORREIA – por terras de Miranda

AS MASCARADAS

MARIO CORREIA
por terras de Miranda

Mário Correia, fundador do Centro de Música Tradicional Sons da Terra, sediado em Sendim, Trás-os-Montes, centro esse que regista já um apreciável catalogo de edições especialmente no campo das recolhas musicais da tradição oral, valioso espolio onde, ao longo dos seus já vários anos de existência, se contabilizam mais de centena e meia de compact-discs e cerca de quarenta livros sobre composições musicais, é de novo noticia pela publicação de mais uma bela obra de sua própria autoria intitulada “As mascaradas do solstício de inverno em terras de Miranda do Douro (contextos, vivências e paisagens sonoras)”.
Conceituada figura como musicólogo e investigador, antigo director e colaborador da revista Mundo da Canção e também jornalista na segunda fase editorial do primeiro e celebre jornal de música, teatro e cinema -“Memória do Elefante” que eu juntamente com mais três amigos lançamos na cidade do Porto, constituiu-se também como elemento importante e fundamental nos primeiros anos do “falecido” e mítico Festival Intercéltico do Porto, onde acabaria por se tornar numa das suas figuras-chave, o conhecido musicólogo nortenho que pela sua obra foi até inclusivamente também já galardoado por diversas vezes com numerosos prémios e distinções, tem neste seu novo livro, mais um profundo e eloquente trabalho sobre vivências, usos, costumes e musicalidades das gentes de algumas das aldeias das terras de Miranda, afinal uma área populacional sobejamente caracterizada por ser um território de certo modo agreste, pela existência de vidas duras e um pão difícil de arrancar às suas entranhas; agora, em magníficos textos que falam com certa profundidade de identidades e de emigração e cujos habitantes – afinal os verdadeiramente resistentes, que arduamente lutam cada vez mais contra a desertificação e abandono dessas terras especialmente por parte de quem tem uma grande necessidade, por vezes imperiosa mesmo, de novos horizontes e de partir em busca de uma outra e diferente e melhor qualidade de vida e na procura da obtenção de melhores proventos um pouco mais compatíveis com o trabalho e a dignidade humana.
Para melhor se compreender estas vivencias e festejos populares directamente conotados com essa mesma problemática e seus lenitivos é o próprio autor que se pronuncia:-“…em tempos e ocasiões festivas tudo se transfigura e a banda sonora convida à alegria e ao divertimento, ao convívio e à celebração comunitária, invertendo a dominante de praticamente todo o ano” acrescentando ainda que “a proposta de abordagem não podia ser mais claramente apresentada: demandar as aldeias, em tempos de realização de rituais com máscaras, sobretudo durante o período do Solstício de Inverno, para “ouver”, ou seja para ouvir e ver a festa das máscaras”.
Um livro excelente, mais uma vez escrito com extrema dedicação, alma, sentimento e muito amor, que se faz acompanhar por um CD, onde a música tradicional é figura de proa e atinge grande relevância, através de reconhecidas sonoridades populares plenas de musicalidade que nos transportam até riquíssimas e expressivas manifestações locais; um livro que é, para além de tudo, um autentico documento sobre algumas das nossas mais genuínas e por vezes mais injustamente esquecidas e por vezes até ignoradas gentes e pode sem favor nenhum considerar-se uma obra de grande relevo literário e vivencial que ao mesmo tempo acaba também por se transformar num verdadeiro acontecimento literário, histórico e musical da região transmontana, por vezes tão bela quanto agreste e ingrata.

AS MASCARADAS

Livro/CD áudio Sons da terra