Tem o fenómeno das tunas sido alvo de pouca atenção por parte dos estudos etnográfico-musicais em Portugal. Nas gravações e nos escritos de Armando Leça não encontramos referência a tunas, o mesmo se podendo dizer das obras de Artur Santos e de Michel Giacometti / Fernando Lopes Graça.
Ernesto Veiga de Oliveira é o primeiro a mencionar este tipo de agrupamento musical popular, dedicando-lhe porém uma pequena secção, no capítulo dos cordofones, do seu vasto estudo sobre os Instrumentos Musicais Populares Portugueses.
Na introdução à obra, refere o autor:
“…a escassez de estudos profundos sobre o fenómeno das tunas rurais portuguesas remetia-as para uma zona lateral, ou mesmo inferior, em relação à música de tradição oral. Mas, em contrapartida, ao longo de muitos anos de pesquisa etnomusical por todos os recantos do país, fomos encontrando, aqui e ali, algumas tunas rurais que despertaram o nosso interesse e foram, por isso, objecto de gravação para arquivo. Esse interesse não era, todavia, muito forte, na medida em que, por essa altura, partilhávamos da opinião dominante sobre a falta de valor tradicional do reportório destes agrupamentos, por se tratar de música de autor transmitida através da pauta. Tratava-se antes da constatação de que a sua música exercia um papel importante nas comunidades rurais em que as tunas estavam inseridas, pelo que era preciso registá-la como documento. A pouco e pouco, porém, fomos despertando para a necessidade de entender, de estudar e dar a conhecer esses grupos populares de cordas que animavam, e continuam animando, a vida do nosso povo e que um pouco por todo o lado nos surgiam e íamos gravando. Mas, por enquanto, a nossa prioridade não era essa. Por força das dificuldades em editar trabalhos etnográfico-musicais, preferíamos dar a público os géneros musicais tradicionais considerados mais arcaicos, e assim chegámos aos dias de hoje, com alguns registos sonoros de tunas recolhidos em diversas regiões, mas que estavam esquecidos no nosso arquivo, destinados talvez a ali jazerem preteridos por outros géneros a que a investigação tem dado mais relevo – e nós próprio, aliás, também.”
Com a criação da colecção Sons da Tradição, tornou-se finalmente viável publicar um estudo profundo sobre as tunas rurais e começámos então a ordenar as gravações que havíamos feito no passado, a efectuar mais profunda pesquisa no terreno, com novas gravações e entrevistas. Pudemos, assim, chegar a este momento e, desta vez, optar, de entre os diversos géneros que compõem o nosso arquivo etnomusical, por dedicar um estudo específico sobre a música das tunas rurais.