Neste CD de Armando Nascimento Rosa e António Neves da Silva, sentimos desde o primeiro momento a profunda verdade dessa aliança indissolúvel entre os textos e as melodias que os sustentam, como se, de facto, ambas as realidades se ajustassem facilmente uma à outra e aquelas palavras precisassem daqueles sons para nos dizerem o que nos têm a dizer, adquirindo assim uma dimensão transfiguradora e mostrando-nos até que ponto música e poesia se tornam absolutamente indissociáveis.
O repertório escolhido para este álbum resulta, quanto a mim, surpreendente, na medida em que, partindo do universo pessoano, consegue fazer coexistir, lado a lado, estilos musicais e poéticos de diferentes proveniências, ora mais eruditas, ora populares, e alargando a sua esfera a outras línguas como o francês ou o inglês, mas mantendo ao mesmo tempo uma notável coerência – coerência essa que, além de musical, é sobretudo emocional, já que a cada instante põe em jogo emoções com que a poesia sempre lidou desde as suas mais remotas origens, mas sofrendo um processo de metamorfose que tanto passa pelo piano como pela voz, em modulações que ao princípio alguns poderão estranhar, mas que rapidamente se entranham no ouvido de quem as saiba escutar e se incorporam nisso a que podemos chamar a nossa memória musical colectiva.