Os trechos musicais reunidos nesta cassette constituem exemplos, sociologicamente dos mais significativos, dos cantos e ritmos de trabalho do nosso povo. Do estrito ponto de vista musical apresentam-se eles, sem dúvida, como espécimes de grande valia, se atendermos à riqueza e variedade dos seus estilos, modos e estruturas ou, ainda, ao seu carácter de autenticidade, patente quer nas mais elementares melopeias quer nas mais elaboradas polifonias. Acreditamos, assim, que Cantos e Ritmos de Trabalho, para além do prazer e emoção estética que possa suscitar a audição da voz profunda e bela do nosso povo, sirvam para melhor entendermos as razões da sua luta por uma vida mais digna.
01 1m 27s A Lavra (Conc. de Torres Vedras). Frases. Exclamações e entoações que o lavrador utiliza para incitar o gado no trabalho.
02 1m 59s As Malhas (Conc. de V. N. de Famalicão). Canto entoado por dois ternos de três homens cada um, ao malhar o centeio.
03 1m 34s A Tosquia (Conc. de Fundão). Um dos poucos cantos ainda sobreviventes que acompanham o trabalho da tosquia.
04 1m 40s A Sementeira (Conc. de Resende). Designado localmente por “Rula, rula”, este rude canto polifónico é entoado em geral por mulheres idosas, no fim da merenda e da própria vessada.
05 1m 40s O Puxar da Pedra (Conc. de Tabuaço). Melopeia entoada pelo capataz e destinada a ritmar e estimular o esforço dos homens que deslocam com alavancas as pedras de maior dimensão.
06 1m 55s O Varejo (Conc. de Serpa). Moda de rara beleza expressiva cantada exclusivamente no varejo da azeitona.
07 2m 12s A Ceifa (Conc. de Idanha-a-Nova). Belo espécime de canto, utilizado tão-somente na ceifa.
08 1m 30s A Rega (Conc. da Nazaré). O “Canto dos batedores de água”, de acordo com a designação local, era entoado em geral por dois homens que, nas “abertas” cavadas para as derivações dos riachos, atiravam a água para os regos, com ajuda de vasilhas de folha munidas de um braço de madeira. Lado a lado, e com água por vezes até ao peito, sincronizavam 66 | 67 os gestos ao ritmo do canto.
09 1m 09s O Maçar do Linho (Conc. de S. Pedro do Sul). Expressiva polifonia de ritmo funcional destinada a acompanhar o trabalho penoso das mulheres na maçadela do linho.
10 1m 40s A Lavra (Conc. de Évora). Designado localmente por “Tralhoada”, este canto é entoado em diálogo pelo homem que vai à frente das três juntas de bois e pelo que guia a charrua.
11 1m 52s A Ceifa (Conc. de S. Pedro do Sul). Canto de feição polifónica, tranquilo e solene, em regra entoado por mulheres na própria faina.
12 1m 07s O Alar das Redes (Conc. de Faro). Melopeia entoada no alto-mar pela companha de uma traineira, ao levantar das redes.
13 1m 54s O Espadelar do Linho (Conc. de Ponte de Lima). Exemplo de canto polifónico de rica estruturação, destinado a ritmar a espadelada do linho.
14 1m 14s A Ceifa (Conc. de Vimioso). Romance das c[s]egadas entoado em diálogo por dois homens, colocados cada um numa ponta das camaradas.
15 2m 05s A Rega [Conc. de Pampilhosa da Serra). A “Canção da Roda”, de acordo com a designação local, é entoada por uma mulher que, pela pressão dos pés, move um engenho erguido sobre um poço, cuja água é deste modo vertida para os regos das hortas vizinhas.
16 1m 20s A Cava (Conc. de Figueira da Foz). O capataz ou mandador utiliza este ritmo para encorajar os homens que cavam a manta no plantio do Bacelo.