Zeca Afonso é visto, décadas depois, por duas mulheres.
A Teresa Moure, galega, escreve a história; a Maria João Worm, portuguesa, ilustra-a.
Ambas sentem fascínio por aquele homem que cantava causas políticas.
Mas, entre palavras e silhuetas, ambas tecem uma rede para sustentar um Zeca mais íntimo do que habitualmente os seus camaradas lembram.
Porque, às vezes, os grandes nomes da história aparecem no momento certo e nas circunstâncias propícias para serem considerados símbolos, mesmo ao seu pesar. Porém, antes de se tornar o cantor famoso que deu voz à Revolução dos Cravos, o Zeca também foi um menino que cresceu em terras africanas, um homem que se impregnou nas suas viagens das cores de muitas terras. Num concerto na Galiza, onde foi venerado, conversa com a sua amiga Begónia Moa e começa a desvendar alguns segredos.
As suas preocupações mostram que está feito de carne humana; carne vulnerável que palpita e duvida, que vibra ao contacto com outras peles e depois teme tê-las magoado, que persegue dar um sentido à vida. Também à morte.
“Galiza e José Afonso: regresso a uma conexão humana. Não é novidade que José Afonso (1929-1987) desenvolveu, a partir de um certo período da sua vida, uma forte ligação com a Galiza, as suas gentes e a sua cultura, ligação que manteve acesa até à morte. Diz-se que foi lá que terá cantado pela primeira vez em público a canção nascida de um poema dedicado à Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, escrito em Maio de 1964, e que viria a gravar no álbum Cantigas do Maio em 1971: Grândola vila morena. A história desse concerto já foi contada mais de uma vez, mas há um texto do professor e editor galego Arturo Reguera, incluído no CD Grândola Vila Morena – Para Sempre José Afonso (Ed. não comercial do Município de Grândola), que a explica bem.”
Nuno Pacheco, no Ípsilon do jornal Público