A gravação do primeiro disco gravado da Banda da Armada Portuguesa realizou-se no ano de 1903 e, sobre ela, deixou-nos Alberto Cutileiro uma descrição curiosíssima no livreto do disco agora editado.
Vinte e seis anos depois de esse texto ter sido escrito, quando tentávamos encontrar a sua matriz tão importante, tanto para a Marinha e a sua Banda, como para a história da música portuguesa, travámos conhecimento com George Woolford membro da City of London Phonograph & Gramophone Society Ltd.. Trata-se de uma das instituições mais credenciadas no estudo dos primórdios da fonografia.
Os seus patronos são Oliver Berliner (neto do Emile Berliner, inventor do gramofone), George Frow (distinto coleccionador e investigador) e Frank Andrews (uma das maiores referências neste campo, com inúmeros estudos editados). Foi precisamente este último quem nos forneceu alguns dados históricos sobre o primeiro disco confirmando informações já registadas por Alberto Cutileiro.
Efectivamente, a The Gramophone and Typewriter Ltd gravou em Lisboa, no primeiro trimestre de 1903, datando desse mesmo ano as matrizes dos registos de Hannover, em que aparecem 9 peças pela Banda dos Marinheiros da Armada, entre elas osCantos Populares Portuguezes de Rodriguez: Ainda segundo Frank
Andrews, o disco 60148 (Cantos Populares) terá sido um test pressing não comercializado, o que vai ao encontro da descrição de Alberto Cutileiro quando este alia a vinda do rei Edward VII com a gravação, indiciando a tentativa de abertura de um negócio inglês de venda de discos e gramofones em Lisboa.
Tivemos também acesso a um catálogo português de venda de discos para gramofone de 1906, em que aparecem 17 peças diferentes das dos registos de Hannover, interpretadas pela Banda dos Marinheiros da Armada, sendo uma delas o hino Anglo-Luso do maestro António Maria Chéu. Sabemos que as 9 peças dos registos de Hannover foram gravadas no início de 1903, mas destas outras 17 sabemos apenas que foram comercializadas em Lisboa em 1906, podendo ou não terem sido gravadas no mesmo ano. Tendo em conta outra informação de Frank Andrews, depois de Lisboa, no início de 1903, a mesma equipa técnica da G&T gravou em Madrid, Barcelona e Valência, tendo voltado a Lisboa em 1904. Esta informação vai também ao encontro do conhecimento que já tínhamos da existência de discos de fado e de um disco da Guarda Municipal de Lisboa gravados em 1904.
Os novos dados encaixam, indubitavelmente, nos que conhecíamos e, à medida que esta imagem da história da música portuguesa se foi revelando, como num puzzle que íamos montando, ficámos com a percepção do muito que falta saber e investigar.