CD 3 extraído do volume 3 da colecção SONS DA TRADIÇÃO com recolhas de José Alberto Sardinha
As músicas deste disco são interpretadas por:
TUNA DE GESTAÇÔ (Baião) – 1 a 5
TUNA DE VINHÓS (Régua) – 6 a 9
TUNA DE BISALHÃES (Vila Real) – 10 a 18
TUNA DE POMARELHOS (Vila Real) – 19 a 23
TUNA DE SANTAR (Vila Real) – 24
TUNA DE ERMELO (Mondim de Basto) – 25 e 26
Tem o fenómeno das tunas sido alvo de pouca atenção por parte dos estudos etnográfico-musicais em Portugal. Nas gravações e nos escritos de Armando Leça não encontramos referência a tunas, o mesmo se podendo dizer das obras de Artur Santos e de Michel Giacometti/Fernando Lopes Graça.
Com a criação da colecção Sons da Tradição , tornou-se finalmente viável publicar um estudo profundo sobre as tunas rurais e começámos então a ordenar as gravações que havíamos feito no passado, a efectuar mais profunda pesquisa no terreno, com novas gravações e entrevistas. Pudemos, assim, chegar a este momento e, desta vez, optar, de entre os diversos géneros que compõem o nosso arquivo etnomusical, por dedicar um estudo específico sobre a música das tunas rurais.
Até um pouco além do meado do séc.XX, viveu-se por todo o país um furor, uma paixão pelos agrupamentos instrumentais de cordas, tanto nas vilas e cidades, como nas mais recônditas aldeias. Quase não haveria uma freguesia do país onde não tivesse existido uma tuna. Assim sendo, não é possível ignorar a importância deste movimento musical, como não é também possível negar que os géneros musicais por ele interpretados tenham exercido influência sobre a música rural. É igualmente matéria que adiante desenvolveremos.
A escolha da região maronesa não obedeceu a qualquer critério de relevância ou especificidade. O fenómeno das tunas abrangia todo o território nacional e ainda hoje apresenta forte enraizamento por muitas outras regiões, como nalgumas ilhas açoreanas, em Terras da Feira e certas manchas da Beira Alta ao redor de Viseu, donde aliás possuímos também interessantes registos sonoros. Foi, por isso, um pouco casual esta escolha, fruto das vicissitudes da investigação no terreno, talvez mesmo de uma atracção especial exercida pela imponência da Serra do Marão e das particularidades do povoamento ao seu redor, ou até de uma simpatia particular pelas características de uma tuna, ou dos seus elementos em concreto, como é o caso da Tuna de Carvalhais e do seu actual dirigente António Lourenço.
Desde o momento em que resolvemos dedicar um estudo circunscrito às tunas do Marão, definimos como território a pesquisar os aros concelhios de Amarante, Vila Real, Mesão Frio, Baião, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião e também um pouco de Mondim de Basto (aqui consideramos esta banda do Alvão como um prolongamento do Marão). As gravações mais importantes já estavam feitas nas décadas de oitenta e noventa, e conservadas em arquivo, mas foi necessário realizar muitas outras nos anos de 2001, 2002 e 2003, sobretudo para abranger toda a referida mancha territorial e registar os últimos tocadores vivos de tunas que já haviam cessado actividade. Das tunas de que não colhemos quaisquer testemunhos musicais, damos também notícia, se ela nos chegou. É provável que algumas tunas outrora existentes na região não estejam mencionadas, mas tal omissão deverá ser relevada por ser impossível obtermos referência de todas elas, atendendo à surpreendente quantidade de tunas que proliferavam por toda esta corda de povos em redor do Marão.