Bombaim, este disco contém canções originárias de Goa, Macau e Timor.
Cantando-as nos respectivos dialectos (concani, patois e tetum) Isabel Mexia soube emprestar-lhes, através de excelentes interpretações, uma mística invulgar que nos transporta para os ambientes respectivos. Uma edição importante pela sua originalidade, e que deu início a uma série de trabalhos discográficos sobre as comunidades onde a língua portuguesa desempenhou, ou ainda desempenha, um papel importante.
Este disco contém um livreto (português e inglês) de 42 páginas.
A música de Goa envolve vários estilos musicais de características tradicionais: o mandó, daknis e dulpodas, que nalguns casos já terão sofrido influências de outros países.
No entanto, o mandó consegue ainda hoje congregar os aspectos mais relevantes do sentir goês, transmitindo na toada dolente dos seus acordes, o romantismo, a ternura, a doçura dos sentimentos simples temperados de saudade.
Se o mandó traduz a dolência e a suavidade do sentimento goês, o dhalo praticado entre os kunbis, traduz a vivacidade e alegria do trabalho do campo.
Para além destes dois tipos bem diferentes de música, existem ainda outras formas, como é o caso do mussoll – que apenas se interpreta em chandoor – e ainda o dakhni, a dança das bailadeiras.
As canções incluídas neste disco são exemplos de alguns destes tipos de músicas, em particular o mando e o dekhni.
A posição privilegiada entre a China e o mar, no delta de um rio generosamente navegável, abriu a população de Macau a permanente mudança. As influências recebidas no pequeno território mercantil foram inúmeras ao longo de quatro séculos de História. Na música, como em outras formas de cultura, o verdadeiramente típico é o caldeamento original de elementps importados por uma minoria étnica remanescente, que guarda como referencia as cadências antigas e o vestígio da velha língua franca que foi o português de quinhentos.
A música é o elemento fundamental, digamos mesmo catalisador, de toda a manifestação cultural timor. Daí que o timor seja naturalmente músico, seja naturalmente melómano nato e também um inventor de melodias.
Qualquer situação que apareça, seja passada seja actual, é para o timor motivo para inventar logo um texto e depois, por cima deste, criar uma melodia. Este é um fenómeno geral de todos os povos da Insulíndia e de uma maneira geral dos povos que habitam as ilhas. São muito naturalmente saudosistas, sentimentais. Mas a isto, evidentemente, quem deve dar resposta capaz é um antropólogo.