Este é o segundo volume de uma colecção que pretende divulgar as gravações realizadas nas primeiras cinco décadas em Portugal.
Neste primeiro volume temos interpretações gravadas entre 1926 e 1930.
Incluímos os seguintes intérpretes:
EDMUNDO DE BETTENCOURT, JOSÉ PARADELA D´OLIVEIRA, ARTUR PAREDES, LUCAS RODRIGUES JUNOT, JOSÉ JOAQUIM CAVALHEIRO e ANTÓNIO BATOQUE.
Em Lisboa, onde o fado se tornou “propriedade” de um grupo social marginal, o conteúdo lírico esteve sempre relacionado com as realidades da vida. São frequentes os temas de amor não correspondido e do azar, assim como as narrativas acerca de Maria Severa (a primeira fadista a alcançar notoriedade pública) e as celebrações populares dos bairros típicos como Alfama, Bairro Alto e Mouraria.
O fado dos meios académicos de Coimbra, antiga cidade universitária de Portugal, apresenta um hibridismo de carácter tão peculiar que pode até ser considerado único no seu género.
“Em Coimbra, o fado tem um carácter completamente diferente. Já não é a canção do povo”, escreve Rodney Gallop em 1936.
Pelo contrário, pertence aos estudantes que passeiam pelas margens do rio Mondego, percorrendo o Choupal, e cantando sonhadoramente ao som das suas guitarras de argênteo timbre. As suas vozes de tenor, quentes e cristalinas, conferem à canção um carácter mais requintado, mais sentimental, isto é, mais aristocrático.
O Fado, que em Lisboa é a canção do proletariado urbano, em Coimbra é reivindicado e cultivado por um grupo culto e privilegiado, os jovens estudantes românticos e seus professores. Esta reivindicação é incontestável e está plenamente justificada, pois, se por um lado é a própria história e cultura portuguesa que a legitima, por outro, ao servirem-se do fado como meio para expressar os seus anseios, esperanças e ilusões, eles estão a dar continuidade a esta tradição musical.